Tudo começou em 1875 quando os irmãos Antônio e Augusto de Souza Queiroz em sociedade com o engenheiro americano Willian Pultney Ralston adquiriram parte da fazenda Salto Grande e instalaram a primeira indústria da Villa Americana. Fabricavam tecidos para as roupas dos escravos e embalagem de café e grãos.
Posteriormente foi adquirida pelos irmãos ingleses Jorge e Clement Wilmot e em 1889 recebe o nome de Fábrica de Tecidos Carioba, palavra que em tupi-guarani significa “pano branco”. Neste período surgiu a vila operária de Carioba.
Em 1896 cessa suas atividades e é entregue por dívidas ao banco do Brasil.
Foi então que, em 1901, o comendador Franz Müller, imigrante alemão, teve notícias de que uma fábrica de tecidos localizada próxima a Villa Americana estava à venda. Em pouco tempo ele se associa ao irmão Hermann e ao inglês Rawlinson, e compram a empresa.
Inicialmente a intenção deles era de recolocar a empresa em funcionamento para em seguida vendê-la, mas especialmente o Comendador Müller ficou muito encantado com a beleza natural do lugar. Então, em 1902, ao redor da casa sede, ele construiu casas para seus filhos e lá se instalou com toda sua família.
Foram meses de árduo trabalho até a recuperação da fábrica.
Com a administração do Comendador, baseada no estilo europeu, foram criadas diversas oportunidades de emprego, principalmente para imigrantes, bem como, de lazer, educação e diversidade cultural. Além disso, houve a ampliação da Vila Operária com toda infraestrutura necessária aos operários.
Com a necessidade de uma fonte de energia mais potente para expandir a fábrica, o Comendador comprou, em 1907, a Fazenda Salto Grande,onde, em 1911, construiu a hidrelétrica que iria fornecer energia, não apenas para a a fábrica e os empregados, como também para a Vila Americana, Santa Bárbara, Sumaré, o então distrito de Nova Odessa e Cosmópolis.
Na Fazenda Salto Grande, a produção de algodão era integrada a fabricação do tecido, sendo um exemplo de industrialização vertical já no início do século XX. A tecelagem era conveniada ao Instituto Agronômico de Campinas, para o desenvolvimento de sementes de algodão, milho e feijão, e produzia feno para a pecuária de leite. Estes produtos eram usados também para o abastecimento da Vila Operária. Seu número de empregados chegou a 2 mil pessoas em 1939.
Em 1920, o Comendador Franz Müller falece e sua tarefa é continuada por seus filhos. Muito querido e respeitado, o busto em sua homenagem foi encomendado pelos próprios operários. Originalmente na praça da Vila Carioba, o monumento hoje se encontra na praça que leva seu nome, no centro de Americana.
O filho do Comendador Franz Müller, Hermann Müller, assumiu a gerência da fábrica, levando-a à grande prosperidade sob sua administração. Hermann também teve grande participação na vida política de Americana, defendendo a bandeira do desenvolvimento da cidade.
A década de 1930 foi o auge do desenvolvimento de Carioba, que começou logo em seguida a sentir o aumento da concorrência. Nesta época, eclode a Segunda Guerra Mundial e o Brasil entra em estado beligerante contra as nações do eixo. O governo getulista, então, impõe restrições a todos os imigrantes e descendentes de italianos, japoneses e alemães. Com a concorrência cada vez maior e dificuldades em conseguir empréstimos para continuar seu negócio, Hermann se vê obrigado a vender a fábrica.
Em 1944, a indústria é comprada pelo Grupo JJ Abdalla. No início houve até uma expansão da fábrica e da Vila, mas os Abdalla também não conseguiram vencer a concorrência e o declínio de Carioba se tornou inevitável. Com o crescimento de Americana, as pessoas foram pouco a pouco migrando para a cidade e abandonando a vila, ficando a fábrica com cada vez menos mão-de- obra especializada.
Muitos dos tecelões da fábrica compraram teares com suas economias e abriram suas empresas a facção; recebiam o fio e teciam com a ajuda da própria família.
A década de 1970 foi marcada por greves e a situação financeira da fábrica era tão ruim que o salário dos operários era pago em tecidos, que vendiam para sobreviver. Em 31 de dezembro de 1976 os teares da Fábrica de Tecidos Carioba funcionaram pela última vez.
Nos anos 80 a Prefeitura de Americana recebe todo o complexo de Carioba e o casarão de Salto Grande como pagamento de impostos do Grupo JJ Abdala. A este ponto as casas da vila operária já haviam sido parcialmente desmanchadas e os materiais foram dados aos funcionários da fábrica como pagamento.
A prefeitura entrou, então, com processo de tombamento do complexo junto ao CONDEPHAAT, o qual foi arquivado e o restante da vila foi demolido.
Somente algumas construções do complexo restaram: O antigo Grupo Escolar de Carioba, que sediou arquivo histórico municipal e algumas entidades, mas foi totalmente destruído em 2011 devido a um incêndio; a Casa Mútuo Socorro de Carioba, abriga a Casa do Conto , onde as crianças entram no mundo da imaginação; a casa do Comendador Müller, que também sediou entidades e foi decretada como a Casa do Cariobense em 2010; o casarão de Hermann Müller, que desde 2001 abriga a Casa de Cultura Hermann Müller, espaço para eventos e exposições; a Igreja de São João Batista de Carioba, declarada de utilidade pública em 1988, a fim de ser preservada como patrimônio histórico; e a Usina Hidroelétrica de Cariobinha, que passou a ser concessão da CPFL e foi desativada em janeiro de1996, restando somente a casa de máquinas e duas residências de antigos funcionários.
Em 1982 parte da área do antigo Parque Albertina foi desapropriada para a instalação da ETE-Quilombo, convênio público-privado para tratamento de efluentes doméstico e industrial firmado entre a Prefeitura, o DAE (Departamento de Água e Esgoto) de Americana e empresas privadas, durante esta construção alguns salões foram utilizados pelo DAE para armazenar materiais e ferramentas.
No ano seguinte, os salões da fábrica passaram a ser alugados, por meio de decretos, para pequenas empresas (prioritariamente do setor têxtil), muitas das quais estão em funcionamento até hoje.
Em 1994, com a abertura do mercado internacional , o setor têxtil foi extremamente atingido pela importação dos Países Asiáticos.
Americana foi as ruas para pedir proteção para o setor. Muitas empresas fecharam no ano seguinte.
Apesar disto, a administração municipal teve a iniciativa de prover mecanismos que viessem a proteger o patrimônio histórico e em 1996, pela lei n. 3025, é criada a Fundação Carioba, com o intuito de preservar todo o complexo, a qual foi revogada em 1999 pela lei n. 3309, criando assim o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Carioba com o mesmo objetivo.
Em 2003, é criado o CONDEPHAM (Conselho do Patrimônio Histórico de Americana) e o Livro do Tombo, pela lei n. 3787, objetivando catalogar todos os patrimônios históricos da cidade e trabalhar pela sua preservação.
Em 2013, através da resolução SC 021, todo o Complexo de Carioba foi tombado pelo CONDEPHAAT/SP.
No ano seguinte, às vésperas das eleições municipais, os Permissionários dos Salões de Carioba se uniram para cobrar dos candidatos o compromisso de melhorar a situação do complexo e manter as empresas que ali se encontravam gerando emprego e renda para o município. No ano seguinte, eles fundaram a ASPECA -Associação dos Permissionários de Carioba, entendendo que a preservação teria que partir daqueles que ali se fixaram buscando manter o Patrimônio Histórico, suas empresas, empregos e arrecadação para o município, na tentativa de resgatar um passado glorioso.
A ASPECA procurou elencar necessidades prioritárias para melhorar a condição do local junto aos permissionários e com estas formulou vários protocolos que foram encaminhados à Prefeitura de Americana. Dentre os quais destacam-se o projeto de combate a incêndio que está aprovado, aguardando para ser implantado; o projeto de restauro de todo o complexo de Carioba, que aguarda aprovação para levantamento de recursos; e as aberturas da Estrada da Servidão e do Platô (para futuro estacionamento).